Sobre o autor



Carlos José é criador do blog Carlos Literato, é estudante de Pedagogia pela Faculdade Dom Alberto e de Psicanálise pelo Instituto Educacional Videira, além de escritor hobbista, e estudioso da Bíblia Sagrada. Ama escrever sobre a Bíblia e sobre o comportamento humano. Escreve para si mesmo procurando se conhecer cada vez melhor, escreve para os outros para que conheçam a si mesmos, escreve para ambos, pois ama tanto a ele mesmo quanto aos seus leitores.














Introdução

Perdão é uma atitude com dois extremos, pois para alguns pode ser humilhante, mas para outros uma ato de nobreza. Perdoar nunca foi fácil, e olhando pela lógica cristã o perdão é algo essencial para o exercício da fé e do amor.


Além disso, o perdão não é uma via de mão única, mas dupla, pois, tanto perdoamos como somos perdoados. Para o cristão o perdão veio primeiro, através do sacrifício de Cristo na cruz do calvário, e agora, é preciso replicar esse perdão, não o perdão dos pecados originais que pertencem a autoridade divina, mas sim, aqueles que a cada dia nos deparamos na convivência em sociedade.


Para isso, é necessário que conheçamos o que é o perdão e a sua verdadeira necessidade, e ainda como ele nos liberta de mágoas profundas, e das mais diversas dores.


Aprenderemos que o perdão não pode ser banalizado, e que ele deve ser liberado de forma sincera na manifestação de um coração contrito e arrependido, só assim, ele surtirá o seu efeito.


E por último e não menos importante, veremos que quando cultivamos o fruto do Espírito, procuramos ter atitudes as quais nos isentam de pedir perdão constantemente, pois deixamos de magoar, machucar e entristecer nosso próximo.

Por fim, tenho firme certeza, que essa leitura enriquecerá seu conhecimento sobre o valor do perdão e seus benefícios.



                                           Boa leitura! 




É fácil falar de perdão até que se tenha alguém para perdoar. C.S Lewis.



O Valor do Perdão


Ser livre significa não estar preso ao passado, a intrigas, mágoas ou desavenças, e uma das maneiras mais “simples” de se resolver isso, é pedir perdão.

Porém, o perdão, essa palavrinha de apenas seis letras, traz ao coração do homem uma enorme complexidade, pois mexe com o seu ego, com a sua razão e sua suposta teoria da verdade.




Entender o que é o perdão, e como ele é libertador, pode transformar vidas, famílias, comunidades e até nações. O perdão é uma prova de amor, e digo mais, a verdadeira superioridade não está em ter a razão, mas em ter a capacidade de liberar perdão, assim como disse Martin Luther King Jr: “Precisamos nos desenvolver e manter a capacidade de perdoar. Aquele que é desprovido do poder de perdoar é desprovido do poder de amar. " 


Você conhece o valor do perdão?


Estamos acostumados a relacionar/valorizar as coisas de acordo com o seu preço, geralmente perguntamos: quanto custa isso? ou, quanto custa aquilo? No entanto, há coisas nesta vida que não tem um preço especificado, mas sim, um valor, e essas são as melhores coisas da vida, as não palpáveis.




O que vamos aprender aqui é o VALOR DO PERDÃO, pois se de alguma forma fossemos colocar preço nele(perdão), o único que poderíamos colocar seria o preço de sangue(1 Coríntios 7:23; 1 João 1:7), o sangue de Jesus derramado na cruz.


Dito isto, e sabendo que não há dinheiro no mundo que pague esse sacrifício, iniciaremos este estudo, tratando do perdão na antiga aliança, e posteriormente na nova aliança, trazendo assim a compreensão do valor imensurável do perdão, tanto em relação a Deus, quanto em relação ao nosso próximo. 




O princípio 


A necessidade de perdão para o homem surgiu no Éden após a queda de Adão e Eva(Gênesis 3:6). A partir daí o homem concorre perante Deus em humilhação e reverência para o alcance do perdão necessário à sua salvação, posto que, o homem não foi feito para morrer, mas recebeu esta sentença após utilizar o livre arbítrio concedido a ele, arbitrariamente. (Romanos 5:12)

Conhecendo o perdão através do pecado


Na antiga aliança ainda não era mencionada a palavra “perdão”com tanta frequência. Em lugar disso são mais frequentes os verbos que designam o ato de perdoar como podemos ver  em Jer. 31:34, no entanto era usado o vocábulo “expiação”, ou "remissão"(Levítico 19:22), que tem por significado cumprimento da pena ou castigo (que se reputa equivalente à culpa ou delito);penitência. Obviamente quem comete culpa ou delito cometeu pecado, logo, necessita de perdão(Romanos 3:23).





A solução


Para o pecado do homem(o pecado original adquirido como herança do primeiro homem, Adão) a solução está posta diante dos nossos olhos, o Sacrifício Vicário de Cristo(Efésios 5:2). Portanto, aderindo à fé em Cristo Jesus, e confessando a Ele os seus pecados, é então suprimida a dívida herdada, e assume-se a posição de Cidadão do Céus(Filipenses 3:20), por mérito de Cristo(1 João 1:9). Desta forma, o perdão de seus pecados o livra da morte eterna.



Certamente, pudemos ter um panorama do que é o perdão, como surgiu e de como o conhecemos, e ainda, que o próprio Deus, na sua presciência, providenciou a solução para a queda do homem. Nisto vemos a diferença entre Deus e o homem, esse poder de enxergar além do horizonte, provendo aquilo que é necessário ao homem, quer seja material ou espiritual.





Tudo isso, vai nos introduzir ao cerne da pergunta inicial sobre o valor do perdão, onde encontraremos atitudes práticas que nos farão entender o seu valor e a sua necessidade no nosso dia a dia.


A austeridade do perdão


O perdão não é uma simples palavrinha para nos redimir da culpa como muitos pensam. Veremos que o perdão precisa ser usado com responsabilidade, e de forma comedida para não cairmos no mesmo erro de Saul(1 Samuel 15:22) que imaginava que os sacrifícios(pedido de perdão) seriam maiores do que a sua desobediência.


Entenda, não estou aqui invalidando a virtude que há em um pedido de perdão, pelo contrário, estou dizendo que ele é tão sério que não podemos banalizá-lo. João Calvino diz: “As pessoas pedem perdão de uma maneira banal porque elas não sabem aquilo que o pecado delas merece de verdade”.




Deus é quem conhece a real gravidade de nosso pecado, e só Ele pode prescrever a sentença e também dar absolvição, por isso, se tememos a Deus, há de haver em nós a seriedade necessária para tratar desse assunto tão delicado, pois o tempo não volta, mas nossas atitudes podem definir o futuro, como diz Paul Boese: “O perdão não muda o passado, mas amplia o futuro.”

As três instâncias do perdão


Chegamos até aqui mencionando várias vezes a palavra perdão, porém não analisamos ainda a sua etimologia.


O perdão no latim nos traz a seguinte significância: perdonare, de per-, “total, completo”, mais donare, “dar, entregar, doar”. É claro que se buscarmos essa palavra em grego e até em hebraico encontraremos sentidos diferentes, porém que levam à mesma ideia.


Sendo assim , veremos que o perdão pode ser trabalhado de três formas diferentes, ou através de óticas distintas que ao fim se completam. Vejamos:


  • Vertical  - Com Deus : Em se tratando da cédula condenatória(Colossenses 2:14) que mencionamos no início deste trabalho, precisamos trabalhar o perdão de forma vertical, pois é só Deus através de Jesus Cristo que pode nos perdoar.





  • Horizontal - Com o Próximo: considerando que fomos perdoados por Deus e lavados eremidos através do sangue de Cristo, agora, somos novas criaturas(2 Coríntios 5:17) e tudo se fez novo, portanto, para que possamos ser perdoados por Deus, agora, não do pecado herdado de Adão, mas dos pecados rotineiros precisamos perdoar o nosso próximo(Mateus 6:12).




  • Intrínseco - Comigo mesmo: E por fim, trataremos também com o nosso próprio eu. Existem pessoas que cometem pecados e não conseguem perdoar a si mesmas, e dessa forma acabam por diminuir o poder de Deus em suas vidas. Pois, se  Deus perdoa todo tipo de pecado(1 João 1:9), quem somos nós para não perdoar a nós mesmos?







70x7 não me dá carta branca para eu pecar contra meu irmão.






“Então Pedro, aproximando-se dele, disse: Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete? Jesus lhe disse: Não te digo que até sete; mas, até setenta vezes sete.Mateus 18:21,22

Relacionado a perdão, esse é um dos versículos mais conhecidos da Bíblia, pois ele nos mostra uma situação em que Pedro questiona Jesus sobre a quantidade de vezes que devemos perdoar nosso próximo, e é claro, como diz o ditado: “se tem questionamento é porque tem história".


Pois bem, segundo a tradição judaica, nos tempos de Jesus, uma pessoa poderia ser perdoada até três vezes e não mais que isso, essa prática se fundamentava nos escritos de Amós 2:6 e Jó 33:29-30, onde está subentendido que Deus só perdoa o homem, no máximo, três vezes. Ora, se o próprio Deus perdoa apenas três vezes, diziam os mestres dos judeus, por que ser mais justo que Ele e perdoar mais vezes que Ele? Perdoar três vezes estava de bom tamanho.(BEF)


Fica claro ao observar o questionamento de Pedro, que havia uma preocupação considerável com essa questão, o que mostra também seu interesse em proceder da forma correta. Portanto, seria necessário ter humildade para encarar essa nova proposta de Jesus, não de três, nem de sete, mas de setenta vezes sete.


Obviamente, que os judeus estavam muito presos a tradições e que essa expressão que Jesus usou é simbólica, querendo apenas expressar a infinidade do perdão, pois não há um número exato de vezes para perdoar, pelo contrário, devemos perdoar o tanto de vezes que for necessário.


No entanto, é perceptível em nosso dia a dia que algumas pessoas usam esse versículo como argumento para se beneficiarem do indulto do perdão. Essa atitude é a mais leviana que uma pessoa pode usar contra a outra.


Da mesma forma faziam os Judeus, que  tinham em seu curral um cabrito para cada pecado, e com isso, acendeu-se a ira de Deus. Que a ira de Deus não se acenda contra nós por tentarmos nosso irmão respaldados pelo pedido de perdão.

O perdão está diretamente relacionado à fé 


“Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem”. (Hebreus 11:1)


É preciso ter fé para perdoar(1 Coríntios 13:7), pois em muitas situações somos muito machucados e humilhados, e o nosso ser carnal quer sobrepujar o espiritual. E também, usualmente costuma-se pedir perdão somente quando se está errado, porque quando estamos corretos gostamos de usar essa frasezinha, “...eu estava certo mas perdoei mesmo assim…”.




Quando temos esse tipo de atitude é impossível agradar a Deus, pois no falta fé e humildade para reconhecer o valor e a essência do perdão, que não está, em estar certo ou errado, mas sim em ser capaz de amar o seu próximo a ponto de se humilhar e equiparar a tua verdade/razão com a culpa dele para que haja paz e harmonia entre ambos.

O perdão é a última instância


Já ouviu a frase, “use e abuse do perdão”? É como se dissesse, peça perdão à revelia, a todo momento. Porém, quem diz isso, ainda não conheceu o verdadeiro significado e valor do perdão.


O perdão, “é a última instância de uma demanda”, é para ser usado quando de todas as formas não tivermos condições de evitar a falha. Quando se esgotarem todas as possibilidades de não machucar alguém, de não magoar, de não decepcionar, é nesse momento que usaremos essa importante ferramenta que Deus deixou à nossa disposição.





Há um problema quando as pessoas pedem perdão demais em curtos espaços de tempo. O que acontece é que apesar de serem perdoados, perdem a credibilidade com aqueles que os perdoaram. Por exemplo: se você sempre se atrasa em um compromisso marcado com determinada pessoa, ela vai te perdoar com certeza, mas ao longo do tempo pode deixar de acreditar que você passará a cumprir com seus horários.


Então, como vimos no exemplo acima, houve perda de credibilidade e confiança, o que não é nada interessante.


O fruto do Espírito


Quem não conhece o fruto do Espírito? 


Em Gálatas capítulo 5 versículo 23 encontramos um texto que fala sobre este fruto, vejamos: “Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança”.Gálatas 5:22


Vimos a pouco, que o pedido de perdão é a última instância em qualquer demanda que imaginemos entrar, portanto, quando o fruto do Espírito é trabalhado em nossa vida, automaticamente amamos mais, somos mais pacíficos, pacientes bondosos, cheios de fé, mansos e temperantes.


Dessa forma, não digo que deixaremos de pedir perdão, porque a Bíblia diz: “se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça. 1 João 1:8,9 .





Sendo assim, estamos cientes de que sempre pecamos, estamos sujeitos ao erro, mas de toda forma, quando o fruto do Espírito opera em nós, tudo se transforma, e usamos o perdão não como uma “muleta” que nos favorece, mas como uma ação de humildade frente ao nosso erro para com o nosso irmão. E para que o perdão não se torne "um artigo de luxo", é necessário exercita-lo a cada dia.

Você tem Perdoado?






























Referências bibliográficas



PERDÃO, etimologia da palavra, 2014. Disponível em:<https://origemdapalavra.com.br/pergunta/etimologia-da-palavra-perdao-2/ >. Acesso em:15 jan. 2022.


PESSOA, a quantidade de vezes que se deve perdoar uma, 2018. Disponível em:<https://www.blogdoeriveltonfigueiredo.com.br/2018/11/12/a-quantidade-de-vezes-que-se-deve-perdoar-uma-pessoa/ >. Acesso em:15 jan. 2022.


BÍBLIA, online, 2022. Disponível em:<https://www.bibliaonline.com.br/  >. Acesso em:15 jan. 2022.


https://www.maltanet.com.br/v2/colunas/vaneir/n-atilde-o-banalize-o-perd-atilde-o


PERDÃO, não banalize, 2020. Disponível em:< https://www.maltanet.com.br/v2/colunas/vaneir/n-atilde-o-banalize-o-perd-atilde-o

>. Acesso em:15 jan. 2022.


CITAÇÕES, de perdão para justificar e deixar ir, 2020. Disponível em:< https://comportall.com.br/citacoes-de-perdao-para-inspirar-e-deixar-ir/

>. Acesso em:15 jan. 2022.